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A fome dos países ricos por alimentos importados está impulsionando a perda global de biodiversidade


À medida que a demanda por frutas e vegetais saudáveis ​​aumenta nos países desenvolvidos, isso pressiona os países em desenvolvimento que exportam esses alimentos sazonais, bem como os polinizadores selvagens que os permitem crescer em primeiro lugar.

Um novo estudo, liderado pelos pesquisadores brasileiros Felipe Deodato da Silva e Silva e Luísa Carvalheiro e publicado na revista Science Advances, investiga o conceito de "comércio virtual de polinização" ao rastrear o movimento de mais de 55 culturas dependentes de polinizadores em todo o mundo . A ideia da polinização virtual foi inspirada no conceito de comércio virtual de água, que Da Silva descreveu a Treehugger como a medição da quantidade de água associada aos produtos agrícolas comercializados nos mercados internacionais.

Sua pesquisa revela que os países desenvolvidos dependem de culturas importadas dependentes de polinizadores para grande parte de sua dieta, enquanto os países que exportam a maioria desses tipos de culturas são os principais impulsionadores do declínio dos polinizadores. Os serviços de polinização contribuem com mais de 75% da diversidade de culturas em todo o mundo e 35% da produção global de culturas em volume. Da Silva e seus colegas então construíram uma ferramenta interativa online que permite visualizar onde as culturas dependentes de polinizadores de um determinado país terminam.

Por que isso importa? Como os polinizadores selvagens estão diminuindo, devido a uma série de fatores que incluem a perda de habitat e o uso de produtos químicos à medida que os métodos agrícolas se intensificam – e, como afirma o estudo, “um evento de polinização que leva à produção de um produto exportado não está mais disponível para plantas silvestres e produtos não exportados." Assim, ao priorizar a polinização de cultivos para exportação, muitos países em desenvolvimento estão minando a biodiversidade em casa.

Da Silva não se opõe à exportação de alimentos. Os países exportadores dependem dos ganhos econômicos que isso traz, mas ele acha que precisa haver uma compreensão global mais ampla dos "impactos do atual modelo de agronegócio e dos mercados internacionais associados sobre a biodiversidade". Ele continuou dizendo:"Quando os consumidores compram um pacote de café, eles sabem de onde veio apenas olhando o rótulo, mas não sabem se o agricultor usou práticas sustentáveis ​​para proteger os insetos que polinizam a produção de café".

Compreender o fluxo de polinização virtual pode ajudar a desenvolver novas estratégias para a conservação da biodiversidade que levem em consideração o comércio de culturas entre países. Estratégias como pagamento por serviços ecossistêmicos, produtos certificados, repasse tecnológico ou financeiro, etc., poderiam, nas palavras de Da Silva, "ajudar a tornar os sistemas agrícolas mais sustentáveis ​​nos países em desenvolvimento, especialmente aqueles dedicados à exportação. Nosso estudo mostra que essa tarefa deve ser feito não apenas pelos países exportadores, mas também por seus parceiros comerciais, porque todos nós dependemos dos serviços de polinização e seríamos afetados pelo declínio das populações de polinizadores".

O estudo sugere que os países exportadores melhoram os habitats dos polinizadores por meio de “práticas de intensificação ecológica (por exemplo, implementação de faixas de flores e sebes) que, consequentemente, podem aumentar a produtividade das terras agrícolas de muitas espécies de culturas”.

Parte do problema, no entanto, é que a conservação de áreas naturais vem com custos de oportunidade, o que significa que quando um proprietário de terras é forçado a preservar áreas naturais por leis de conservação, ele não consegue expandir a produção agrícola para ganhar mais dinheiro; mas a falha em garantir tais esforços de conservação pode levar a problemas maiores de longo prazo. Do estudo:

O estudo sugere que os governos dos países em desenvolvimento devem priorizar investimentos em agricultura de precisão (ou seja, o uso de tecnologia moderna para apoiar uma gestão mais eficiente) em vez de expansão de terras agrícolas para aumentar a produtividade da terra, ou "intensificação ecológica de práticas agrícolas" que podem impulsionar serviços ecossistêmicos como polinização de culturas. Estratégias que "consideram os benefícios socioeconômicos da conservação da natureza são essenciais para evitar o esgotamento do ecossistema nos países exportadores".

Da Silva disse a Treehugger que tornar o manejo de terras agrícolas mais amigável aos polinizadores "é um desafio difícil para a sociedade humana, mas acho que nosso artigo pode ser um primeiro passo para essa discussão". Ele dá o exemplo do comércio de soja do Brasil:

O rastreamento da polinização virtual tem potencial para se tornar uma ferramenta importante para a política internacional. Essas informações podem contribuir para cadeias produtivas mais sustentáveis ​​e para a internalização dos custos associados à preservação do ecossistema.

Nas palavras de Da Silva, "Esperamos que, ao facilitar a identificação de conexões econômicas globais mediadas por serviços ecossistêmicos, o trabalho estimule o reconhecimento da responsabilidade compartilhada, em que todos os participantes do processo produtivo (agricultores, consumidores e políticos) estejam engajados minimizar os impactos ambientais”.

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